quarta-feira, 8 de julho de 2009

Quanto custa?

Gosto de sublinhar livros de ficção.
Acho que são com esses que a gente mais aprende porque, enrustidos no enredo, podemos encontrar diversas lições. Por isso sublinho, pra quando der vontade de relembrar não precisar reler todo o livro.

Hoje a noite tava sentindo uma vibe meio Oscar Wilde no ar e nada mais justo que investir uns minutos do meu tempo pra ler o que sublinhei em "O Retrato de Dorian Gray". Eis que a frase me chama atenção: "Hoje em dia sabemos o preço de tudo e o valor de nada".

Fiquei pensando. É muito verdade. O mundo é movido por dinhero e não por valores.
Achei graça quando perguntei a um amigo como era a calça nova que ele havia comprado e ele respondeu: "é uma calvin klein". Atenção: a calça não era jeans azul escuro, corte reto, lavagem antiga, com uns detalhes em verde no bolso.... não, a calça era calvin klein (que aqui nem ouso escrever com letra maiuscula).

Acho que as pessoas se apegam ao preço porque isso é algo que elas compartilham: 1 real pra mim é 1 real pra voce. Agora, valor já é complicado... O que pra mim é algo valioso (sentar sabado a noite em Sambaqui e ouvir um grupo de manézinhos velhinhos tocarem samba de raiz) pra você pode ser algo dispensavel.

Não muito tempo atras fui em uma loja trocar uma roupa que havia ganho... loja dessas cheia de preço e de pouco valor. Ao passar no caixa a dona da loja elogia a camiseta que eu estou usando e solta: "qual a marca?". Respirei e respondi: "nenhuma, comprei numa lojinha de rua". Vi o brilho no olhar da mulher se apagar. Uma frase atras minha camiseta era bonita, agora era farrapo. Não deixei barato e completei a minha resposta: "...numa lojinha de rua em Paris". Ela sorriu a ponto de eu ver seus molares.

As coisas sao julgadas em reais, dolares e euros ao inves de serem julgadas em beleza, conteudo, utilidade, qualidade, importancia....

Lembro quando eu tinha 17 anos e estava assistindo a uma aula de história da arte onde estudei nos EUA (porque não existe país mais precificado). A professora, Mrs. Fossen, explicava um Van Gogh que não era lá muito famoso: um senhor de idade com um chapeu de palha sentado num banco de madeira e, ao fundo, a parede forrada de litografias chinesas. O quadro era lindo. Ver os traços de Van Gogh representando figuras tipicamente chinesas era algo tão bonito que eu não conseguia tirar meus olhos da imagem projetada na parede. Os outros alunos? Fazendo tudo, menos ouvindo a professora. Mrs Fossen, já de saco cheio, deu um suspiro irritada e falou: "esse quadro foi leiloado recentemente e é até agora o quadro mais caro do mundo".... Silêncio. Os alunos olhavam pra projeçao.

Não vamos ser hipócritas, gostamos de coisas caras tambem. Geralmente elas até possuem um certo valor... mas não sempre. Não sempre pois o valor é relativo. Repito: o preço é para todos, o valor é seu. Então arrisque-se. Explore o novo, encontre o valor barato. Aprenda que as melhores coisas da vida não vem embrulhadas em papel de seda. Descubra o que é valioso pra voce.



Um comentário:

  1. caramba, eu faço a mesma coisa.
    vivo sublinhando as frases dos livros p/ relembrar dps.

    falou e disse nesse post.
    concordo com cada palavra.

    beijos
    nanda

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